Outubro foi um mês difícil.
Foi uma maratona de trabalhos (aqui conhecidos como assignments), permeada pela sensação de que não seria possível dar conta. O mês passou e, ao contrário do que pressentíamos, tudo deu certo.
Agora chegou novembro e o mar de prazos (conhecidos como deadlines) se acentuou. A sensação de que não vai dar tempo é uma constante. Mas essa é só uma impressão. No fim, sabemos, tudo vai dar certo. O problema é que, no meio da bagunça, a gente se esquece disso. O exercício é sempre se lembrar que estamos no caminho certo.
Os últimos dois meses foram marcados por uma série de assignments:
O mais difícil deles é o que se chama “patch“. No começo do curso, cada aluno foi incumbido de cobrir um bairro, aqui chamado de ‘wards‘. Esses ‘wards’ fazem parte de uma região administrativa maior, chamada ‘boroughs‘. Cada ward tem seus councillors, algo como vereadores, além de seu centro comunitário e de políticas públicas próprias.
Meu ward é Canonbury, um bairro de 12 mil habitantes, com um centro comunitário e três vereadores.
Aqui, “meus” councillors:
Aqui, pinturas antigas que retratam Canonbury:
Pois bem: nosso trabalho é perambular pelo nosso ward e produzir reportagens. Até o começo de dezembro, devemos produzir oito matérias e sugerir outras doze.
É aqui que começa o desespero: assessorias de imprensa estão cansadas dos alunos solicitando entrevistas, councillors ignoram os pedidos e os deadlines se acumulam assim como as negativas das fontes oficiais.
Somado a isso há a falta de tempo: como alunos em tempo integral, temos que descolar entrevistas no final da tarde e participar de reuniões comunitárias à noite. Nos fins de semana, é hora de escrever o que foi apurado e fazer as pesquisas para as reportagens da semana seguinte. É uma ginástica.
Na semana passada, chegou meu feedback: a professora mais inspiradora desse curso me disse que “era visível que eu havia colocado considerável esforço no trabalho” feito até então. Naquele dia, eu andava saltitando pela rua.
A sensação foi parecida com a de quando um dos meus councillors respondeu ao meu pedido de entrevista. Eu abraçava meus colegas de classe e sentia que tudo estava na mais perfeita paz.
A questão é: o patch é só um dos trabalhos que temos que fazer.
Somado a ele, temos outros dois projetos práticos, para os quais também temos que fazer entrevistas e produzir reportagens semanais.
Minha agenda para esta semana com algumas das atividades e deadlines que preciso cumprir
Um deles, para a disciplina Jornalismo Online, é um projeto muito legal que meu grupo e eu criamos: Project Ada, para falar de mulheres em tecnologia. O legal é que não é um clube da Luluzinha: somos em duas meninas e dois garotos.
Meu primeiro artigo é uma entrevista que fiz com uma desenvolvedora. Pedi a ela dicas sobre como começar a aprender programação e codificação.
Há ainda nosso blog pessoal, que entra na avaliação final. Até nossa evolução em número de seguidores no Twitter é analisada.
(Para quem não conhece, meu blog profissional aqui é o ahackinlondon.wordpress.com. Sejam bem-vindos nele também.)
No fim da lista de atividades, há a tentativa de nos dedicarmos ao que de fato gostamos.
Eu prometo todas as semanas que irei treinar em casa com os softwares de jornalismo de dados que viemos testando nas últimas semanas, mas o fato é que não consegui me dedicar a isso ainda.
Mesmo sem os treinamentos, ainda assim já vejo pequenas evoluções nas minhas habilidades:
- Não surto mais quando vejo uma tabela de Excel cheia de números. Aliás, minhas recém-adquiridas habilidades em análise de dados têm sido crucial para a produção de reportagens para meu “patch”. O que já analisei de estatísticas de dados criminais não está escrito!
- Tenho modelado minha mente para pensar em dados visualizados. Isso, que era impossível para mim, começa a ficar mais claro, e produzir gráficos não é mais algo do outro mundo.
No meio de tudo, tem a mente bandida, que é, no fim das contas, o inimigo: os receios, as preocupacões, o exercício constante de aceitar que aqui sei de muito pouco. Às vezes, há ainda uma dúvida grande se o esforço está sendo suficiente.
Temos mais três semanas para finalizar nosso patch. Às vezes, parece que é impossível darmos conta. Mas daí me lembro das palavras da minha tutora, que disse ver “considerável diligência” no trabalho que eu produzi até o momento.
Diligência é uma das sete virtudes divinas, que se opõem aos sete pecados capitais. Significa persistência, esforço, ética e retitude.
Quando me sinto pressionada pela enorme quantidade de tarefas, tento pensar nessa palavra. Imagino que, se eu a seguir, como uma bússola, tudo vai dar certo.